Artes Marciais

Artes Marciais surgiram em muitas culturas ao redor do mundo, em todas elas essa era uma forma de expressão da cultura, treino do corpo, treino da mente e também uma forma de desenvolver habilidades de combate e valores morais (respeito, gratidão, disciplina etc). Atualmente grande parte desses aspectos da Arte Marcial foram perdidos ou interpretados de outras maneiras. Em muitos casos uma rica cultura e métodos de transformação foram transformados em modalidades esportivas ou objetos da indústria de entretenimento (filmes, lutas na TV). Não há problemas em praticar um esporte de luta, mas é triste que o potencial transformador das Artes Marciais seja perdido no meio desse processo. Entendendo isso, pode surgir no praticante a aspiração de praticar Arte Marcial não só como uma ferramenta de combate, mas como um método de transformação pessoal. Nesse ponto podemos entender o treinamento nas Artes Marciais como sendo uma prática onde vamos nos dedicar conscientemente para o cultivo de nossas habilidades e a superação dos nossos obstáculos. Isso não quer dizer que vamos transformar a Arte Marcial em algo brando e sem combates, muito pelo contrário, vamos utilizar todas as situações de treino como catalizadores no processo de superação de obstáculos.

O Treinamento da Mente e as Artes Marciais

Um dos aspectos mais ricos das Artes Marciais é sua capacidade de nos por em contato com uma grande grama de emoções (medo, raiva, ansiedade, alegria, tristeza, sentimento de superioridade ou inferioridade, competitividade ou a falta dela etc). Essas emoções são sentidas a nivel  de corpo, porém tudo isso é algo que surge da mente. De fato, não há razão alguma para competirmos com nosso parceiro de treino ou sentirmos raiva do professor, mesmo assim isso pode acontecer. Da mesma forma, na vida cotidiana somos levados a todo momento por impulsos emocionais que na maioria das vezes não são benéficos a nós, às pessoas que nos relacionamos e com a biosfera. O treinamento da mente nas Artes Marciais surge no momento em que entendemos que grande parte dos nossos obstáculos na prática são na verdade obstáculos mentais. Nesse ponto podemos criar espaços na Arte Marcial para o cultivo de qualidades como atenção, relaxamento, estabilidade, alegria, companheirismo, respeito, equanimidade, disciplina, moralidade, destemor e gratidão. Todo momento de prática pode ser direcionado para o treino dessas qualidades, por exemplo, podemos treinar disciplina chegando nos treinos nos horários corretos; companheirismo ajudando os parceiros no treino, gratidão suportando o grupo de prática, atenção a todo momento de aula. Outra forma de treinamento da mente é através da prática de silêncio. Nessas prática nos sentamos em uma posição confortável, imóveis, em silêncio e ancoramos a atenção em um objeto escolhido (por ex. respiração, sensações, objeto físico ou mente). Isso é usualmente chamado de meditação, mas como essa palavra pode ter vários significados optamos por chamar de prática de silêncio. A prática adotada aqui é tradicionalmente chamada de Shamata e é uma técnica milenarmente conhecida para o treino da atenção sem esforço. Relacionar Arte Marcial com treinamento da mente não é algo novo, algumas Artes Marciais foram mantidas por muitos anos quase restritas a mosteiros e dojos onde se praticava meditação e Arte Marcial como parte de um mesmo treino.